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Folha de S. Paulo denuncia expulsão de geraiseiros em Formosa do Rio Preto

12 de junho 2019

No final do século 19, um punhado de sobreviventes do cerco militar que dizimou o povoado de Canudos encontrou nas cabeceiras do Rio Preto, Oeste da Bahia, um lugar para viver em paz. Gerações mais tarde, seus descendentes estão encurralados por trincheiras, cercas, guaritas, seguranças armados, policiais e, principalmente, pela soja.

A disputa opõe geraiseiros, nome dado às comunidades tradicionais da região, ao Condomínio Cachoeira do Estrondo, apontado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) como a maior área grilada da Bahia e uma das maiores do Brasil. Somada a outra fazenda também no cerrado baiano, o roubo de terras públicas chegaria a 444.306 hectares, o equivalente a três municípios de São Paulo.

“Quando a gente pensa que não, chegou essa fazenda querendo ser dona de tudo”, diz Adaciano Ferreira Lima, 67, o seu Canário, nascido e criado ali, assim como os pais, avós, bisavós, além das oito filhas. “Mas nunca vendemos, não demos, não emprestemos, é nosso. Eles querem dizer que não é nosso, aí estamos na luta.”

Lima é um das dezenas de moradores da comunidade Aldeia, localizada em um vale às margens do Rio dos Santos, afluente do Rio Preto. É o único local com vegetação nativa nos cerca de 260 km percorridos pela reportagem da Folha de S.Paulo de Barreiras até ali. No restante da viagem, em terras planas, o cerrado já foi substituído pela agricultura mecanizada de soja, milho e algodão.

Até cerca de cinco anos atrás, havia poucos problemas de convívio entre os geraiseiros e Estrondo, propriedade da família do empresário gaúcho radicado no Rio Janeiro Ronald Guimarães Levinsohn, que chegou à região em 1975. De lá para cá, porém, o condomínio passou a adotar várias medidas restritivas e repressivas contra os moradores, estimados em cerca de cem famílias, quase todas negras, e espalhados por oito comunidades.

As principais vias de acesso foram bloqueadas por portões e guaritas, com presença permanente de guardas privados armados. Em algumas, o acesso é proibido. Em outras, só é possível mediante a apresentação de documento e durante o dia. São eles que decidem quem pode passar — as principais lideranças, por exemplo, estão vetadas.

Leia na íntegra a reportagem de Fabiano Maisonnave, no portal da Folha.